«Se Montaigne não sabia quem era, e se, para o saber se pôs a escrever, sabia que era. Poucos homens antes dele, e ainda menos depois dele o souberam com tanta certeza. […] Talvez tenha sido o primeiro homem do Ocidente a não ter Musa. Não tendo encontrado nenhum outro, no seu caminho, senão a si mesmo, converteu em escrita o interminável espanto deste encontro.»
Eduardo Lourenço
Montaigne foi para Eduardo Lourenço uma referência permanente. Se foi Sílvio Lima que abriu ao jovem estudante de Coimbra a avenida do método ensaístico, foi sem dúvida a leitura de Montaigne que lhe permitiu encontrar a sua própria originalidade, no descobrimento do Homem, como se tratasse da sua própria América, no caso inesperado de Colombo.
O que fascina o escritor é essa originalidade que torna Montaigne pioneiro do pensamento moderno, desde a consideração de um horizonte de exigência utópica (não como ilusão, mas como responsabilidade) até à consideração da singularidade cartesiana, sem esquecer o idealismo platónico e o realismo aristotélico.
Os textos de Eduardo Lourenço que constituem este volume procuram revelar como o género ensaístico pretende seguir a lição de Montaigne, no sentido de nos descobrirmos a nós mesmos, num mundo controverso e difícil.