Ponte Pequim sobre o Tejo
- Edição Março 2020
- Colecção
- ISBN 978-989-616-954-1
- Páginas 336
- Capa Brochada/capa mole
- Dimensões 14,7x22,2 c/ badanas
Organizando a sua vertiginosa trama numa célere sucessão de dias - ecoando uma inquietante combinação entre o Livro do Apocalipse e uma frustrada revisitação da Odisseia - a escrita violentamente poética de António Oliveira e Castro ganha nesta Ponte Pequim sobre o Tejo um novo rigor febril e uma exuberância ditada por um imperativo de urgência profética. Numa narrativa que se estende por mais de quatro gerações e tem como chão o planeta inteiro, esta obra conduz os leitores pelos labirintos e segredos da condição humana, numa paisagem credivelmente futurível, devastada pela cegueira da vitoriosa guerra de séculos de modernidade tecnológica contra a Terra, a nossa frágil e bela pátria cósmica.
As mulheres e homens deste livro movem-se, como sonâmbulos, ao encontro de um destino que não contém nenhuma promessa de redenção. Numa paisagem de incêndios perpétuos, com os céus permanentemente cobertos pela poeira dos desertos que avançam para Norte, com secas extremas que semeiam guerras pela água, ao mesmo tempo que o colapso da criosfera impele os oceanos a reclamarem para si as cidades costeiras, a fragilidade humana afunda-se numa impotência que ultrapassa os limites da pena e do sofrimento.
No quadro de Paul Klee, intitulado Angelus Novus, Walter Benjamin julgou surpreender o anjo da história, com o rosto angustiado voltado para o passado, que é um campo de ruínas deixadas pela tempestade invencível que o empurra irremediavelmente para o futuro. Quem leia este livro, ousará corrigir Walter Benjamin. O anjo da história não olha para o passado movido por compaixão pelas vítimas do progresso. Recusa vislumbrar o futuro, apenas por estar tomado pelo pânico de uma visão, que mesmo para um anjo seria insuportável.
Viriato Soromenho-Marques
Há um sabor escatológico neste romance que nos transporta do deserto de Taklimakan, na China, à tensão entre cristãos e muçulmanos, no Canto, uma aldeia perdida na raia.
Os avanços tecnológicos, que têm a sua expressão real e simbólica na megalópole de Xangai, não evitam que Lisboa, agora uma cidade chinesa, se transforme num Titanic afundado nas consequências catastróficas das alterações climáticas. Apesar deste quadro bipolar e opressivo, as personagens saídas da escrita opulenta de António Oliveira e Castro, resistem aos demónios libertados pelos novos Titãs, conservando assim traços de humanidade. Uma réstia de esperança, numa narrativa que não deixa o leitor em paz.
Pedro Vieira