Numa ruela de uma noite morrinhenta, Afonso acorda num contentor de lixo e descobre que perdeu a memória. Sem passado, procura-o pela cidade e encontra Evelina que parece tê-lo em excesso. Em circunstâncias distintas, também o agente Alves acorda num contentor de lixo.
O episódio que retrata esse agente da Guarda abre caminho à história prosaica de uma família de Caramelos, oriunda da região da Gândara, que recua ao início de 1800, atravessa a segunda metade do século XX e chega à atualidade. Nesta viagem de gerações que cruza duas geografias – o espaço gandarês e a charneca entre os rios Tejo e Sado – desenrolam-se temas como o atavismo e despovoamento rurais; a guerra colonial, luta de classes e reforma agrária; o proxenetismo clerical e a prostituição.
Entretanto, Afonso está em crer que a misteriosa Evelina, com quem se envolve e o vai guiando na sua «caminhada às arrecuas», forja vidas e conta-as como se fossem memórias. À medida que a oblíqua relação desliza para os afetos e Afonso começa a admitir alguma verdade no passado livresco de Evelina, a narrativa de um enviesado triângulo amoroso parece ir convergindo para a da gesta dos Caramelos, com a qual alterna.