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Que Valores Para Este Tempo?

Vários

  • Edição Janeiro 2007
  • Colecção Fora de Colecção
  • ISBN 978-989-616-194-1
  • Páginas 376
  • Dimensões 0 x 0
€19,18 €11,51

Perante a angustiante «situação espiritual do nosso tempo», diagnosticada há já muitos anos por Max Scheler, e ainda porque se trata de um ano-aniversário da Fundação, parece oportuno interrogarmo-nos sobre o que se pode chamar, sem exagero, uma crise geral do sentido. Ela acha-se declarada nas várias declinações da temática do «fim», por importantes pensadores da segunda metade do século XX. Assim, falou-se do fim do sujeito (ou até do homem), da verdade (não só da «metafísica», mas das próprias ciências), da história ou da beleza. É significativo que estes termos recubram os sistemas de valores sobre os quais o Ocidente se construiu, a partir da sua herança grega e cristã. Platão designou-os por Verdadeiro, Belo e Bem - e encontramo-los também nas finalidades estatutárias da Fundação Calouste Gulbenkian.

A crise manifesta-se diversamente, conforme as diversas esferas de sentido. Contudo, elas apresentam em comum estarem minadas, se não paralisadas, por descontinuidades, rupturas aparentemente insanáveis que as palavras «crise» e «fim» por si só evidenciam. A crise do sentido é o somatório de muitas rupturas com tradições que se construíram durante séculos. Por certo, a história atesta também que houve sempre descontinuidades e novidade (a invenção e a inovação são também descontinuidades); mas é característico do nosso tempo que as rupturas se façam em relação ao próprio substrato «platónico» do agir e do pensar. Aquilo que se pretende destituir é a verdade ou o belo enquanto tais, e por isso falamos de crise geral do sentido e dos valores. Num outro plano, os grandes desastres humanos do século XX afiguram-se também qualitativamente diferentes das guerras e massacres anteriores.

A temática do «fim» não é um capricho niilista de alguns filósofos ou um efeito de moda, mas uma interpretação legítima do devir da sociedade e do pensamento. É no meio dela que nos encontramos, e cabe-
nos perguntar como a superar, para não ser a crise a submergir definitivamente o homem. A pergunta será então: possuímos meios ou instrumentos capazes de efectuar tal superação? É-nos possível descortinar outros valores que estabeleçam pontes entre domínios que nos aparecem como desconexos, exibir continuidades internas a cada esfera de sentido (cognitivo, ético-político, estético), aproximando termos opostos, e revelar talvez afinidades entre o Verdadeiro, o Belo e o Bem?

A única resposta é que a procura desses novos valores e de continuidades insuspeitadas - só há sentido onde existe continuidade - é uma tarefa desesperadamente urgente. Não há alternativa. Felizmente, os desenvolvimentos das ciências e das artes e uma consciência social e política que pouco a pouco se elabora contra o pano de fundo da crise (requerida por esta) permitem-nos, sem voluntarismo nem wishful thinking, alimentar a esperança de se chegar ao fim do túnel. Os tópicos indicados não são evidentemente os únicos que conviria tratar. Mas, na sua aparente abstracção, subjazem a outros aspectos de uma mesma realidade (um dos propósitos da Conferência é evidenciá-lo) e em todos eles caminhos novos sugerem algumas saídas. São elas que queremos sublinhar.

Fernando Gil